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Longas conversas com os monstros debaixo da cama

Trecho do filme Mother Joan of the Angels.

Eu nunca fui uma grande fã de terror. Achava inconcebível que, vivendo num mundo de qualidade duvidosa e já tendo que lidar com todos os horrores da vida real, alguém passasse o seu tempo livre assistindo ou lendo algo também assustador. Quando eu era adolescente, sempre rolava um filme de terror nas festas do pijama. Eu via, odiava, passava um mês sem dormir. Um dos mais traumatizantes foi O Exorcista, que eu assisti no aniversário de uma amiga. Ela morava em uma casa num bairro mais rural, a rua tinha poucos postes, o próprio quintal da casa era pouco iluminado. E, justamente na cena do exorcismo, a televisão pifou. Éramos 6 ou 7 meninas amontoadas no sofá. Algumas decidiram ir pra piscina, já que não tinha mais filme pra ver. Outras — como eu — continuaram encorujadas no sofá sem coragem de se mexer.

Depois que saí da adolescência, nunca mais vi um filme de terror. No máximo, um suspense psicológico. Sustentava a minha opinião de que a vida já é suficientemente assombrosa. Isso até a pandemia começar. De repente, acordar todos os dias, ligar a televisão e ver o mundo parado, boletins constantes atualizando o número de mortos, novas covas sendo criadas, um clima de pânico generalizado atravessando todas as redes sociais e todas as conversas, viver esse horror — tão palpável, tão inescapável — fez os horrores ficcionais parecerem quase amigáveis.

As primeiras a cruzar o meu bloqueio foram duas séries que flertam com o drama: The Haunting of Hill House e The Haunting of Bly Manor. Depois, veio Escuridão total sem estrelas, livro de contos do Stephen King. E, enfim, o livro que se tornaria um divisor de águas na minha vida de leitora (e escritora também): As coisas que perdemos no fogo, da Mariana Enriquez. Apaixonada pela Mariana, fui buscar outras escritoras com propostas semelhantes e encontrei Carmen Maria Machado, Giovanna Rivero, Samanta Schweblin, María Fernanda Ampuero, Mónica Ojeda, Verena Cavalcante, entre outras mulheres que escrevem um horror que não se parece em nada com as construções engessadas que eu guardava na memória.

Especialmente em tempos de positividade exacerbada, good vibes, gratidão, em tempos em que qualquer tristeza é automaticamente rotulada como depressão e tratada com um monte de remédios, me parece que o horror também pode exercer uma função importante: permitir que a gente entre em contato com o pior lado do mundo, do outro, de nós mesmos. E também com aquilo que não é fácil, nem bonito, com os sentimentos que a gente prefere fingir que não viu porque olhar pra eles seria desconfortável demais.

Por uma grande ironia do destino, eu me tornei não só uma fã, mas também uma escritora de horror — ou, ao menos, me parece que é por esse caminho que tem seguido o livro de contos que estou escrevendo. E, nesse pós-pandemia esquisito e recheado de sentimentos ambíguos, é aí que tenho sentido alívio. Através do horror, passei a encontrar os meus próprios demônios, lidar com os fantasmas de uma vida que não existe mais, exorcizar a minha raiva, ter longas conversas com os monstros debaixo da cama. Graças ao horror, entendi que medo de escuro não se enfrenta acendendo a luz — mas encarando o escuro por mais tempo.

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